quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

A Mágica de um Lusitano e sua Sabedoria

Ao mestre cabe olhar os detalhes para aperfeiçoar as grandezas de seus pupilos, aos pupilos cabe olhar o geral para encontrar as falhas e junto a seu mestre transforma-las em qualidades.

Hoje, talvez mais tarde, talvez amanhã ou talvez bem mais tarde, mas sim em algum momento dessa grandiosa história um, dos poucos, mestres de minha vida partirá.

Em seu leito, sem expressão, sem olhares, sem consciência, sem fala.... sem vida, ele ainda demonstra teimosia para partir.

A teimosia que sempre foi sua ferramente para atingir seus objetivos, que sempre foi a arma para derrotar seus inimigos e que sempre seria sua fonte de vida, hoje consome sua vida aos poucos.

Sempre dizia que a independência é sua maior virtude, e hoje ela (a teimosia) o transformou em dependente. Com sede de vida, dizia que queria partir logo, assim, em um minuto, e ela, novamente, o faz partir devagar as vezes quase parando.

Dos muitos anos de vida (e ainda mais de sabedoria), foram apenas dois anos, quase 3, que a teimosia foi sua inimiga.

Não posso julga-la como a malfeitora de tudo isso, afinal, foi ela quem o trouxe ao Brasil, foi ela quem o transformou em barbeiro, foi ela quem o ensinou a escrever e ler, foi ela quem o manteve vivo quando o frio o consumia, foi ela que o ensinou matemática, física, química, biologia, sem ele se quer ter ideia disso, sem ela, talvez hoje quem vos fala não existiria.

O teimoso é aquele que crê em seus ideias, vontades e sabedorias com tanto afinco que o cega para o mundo, o cega para a vida, que muitas vezes pode ser muito mais vivida e ele nem sabe.

Meu mestre não foi um desses, sua teimosia era sábia muitas vezes, infelizmente nem sempre, mas quase, por isso ele foi um pai rígido, um marido bravo e briguento, mas um avô cheio de amor e afeto.



Um avô que tinha os netos como suas maiores crias, sem ter criado diretamente, nos tratava como se fossemos suas verduras da fazenda, suas manhãs de plantações, sua navalha de barbeiro e a música de sua guitarra portuguesa.

Eramos sua principal plateia de piadas e histórias e, particularmente eu, via como um verdadeiro espetáculo, afinal era meu mestre ensinando sobre a vida.

Apesar de vivo, foram 3 anos sem suas histórias, sem sua fazenda, sem seus cachorros, sem sua horta, sem sua sabedoria, sem suas lições e, principalmente, sem o seu bom humor lusitano. Até que pra quem dizia que não dormia profundamente, e sim apenas cochilava, talvez esses 3 anos tenham feito você recuperar o sono perdido.

O ciclo da vida é cruel, nascemos, crescemos, envelhecemos e morremos, mas é como as coisas são, não importa a maneira como tudo chega ao seu fim, a eternidade do seu ser existirá em todos os corações daquele que você toca, com suas sabedorias e histórias, e principalmente, com sua garra de vencer, a que muitas vezes se equiparava a teimosia.

Sua sabedoria foi transmitida e passará por gerações e gerações, visando o infinito.

Chega de cochilos e aproveite que agora você pode finalmente dormir para sempre.

Com todo o carinho que um neto pode dar te digo o meu último adeus.




Com amor e saudades.

Marcelo.